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A quadra de Natal e Fim de Ano ficou marcada por um triste acontecimento: o meu colega e amigo António Marques Júnior, sem que nada o fizesse prever, deixou de estar, fisicamente, entre nós.
O António Marques Júnior foi meu colega na Assembleia da República durante duas décadas e éramos amigos. Ao longo desse período, fomos membros da Comissão de Defesa, do Conselho Superior de Defesa Nacional e da Delegação Portuguesa à Assembleia Parlamentar da NATO. Apesar da diferente opção partidária, era significativa a comunhão de princípios e valores e a coincidência de pontos de vista sobre as questões da política, da família e da sociedade, que eram objecto das nossas conversas. O Marques Júnior era um interlocutor atento, solidário e preocupado. Sentia os problemas e as adversidades dos outros como se fossem próprias. Apesar da relevância do seu percurso de vida, impressionava a simplicidade e cordialidade com que lidava com a generalidade das pessoas e, em especial, com os mais humildes. Ele próprio era humilde e generoso na relação com os seus subordinados e sempre muito sensível aos seus problemas pessoais, familiares ou de trabalho. No exercício das funções públicas que foi chamado a exercer, era exigente, rigoroso, competente, empenhado e simultaneamente compreensivo, tolerante e amigável. Era de uma honestidade à prova de bala, quer no domínio das ideias, quer no respeitante a dinheiros públicos, chegando mesmo a ser escrupuloso, a ponto de prescindir de direitos e regalias, que nada tinham de ilegal ou imoral, só para afastar de si qualquer razão de suspeita ou crítica que pudesse pôr em causa a dignidade e transparência com que devem ser exercidos os cargos públicos. A sua formação militar levava-o a encarar com particular exigência as questões de honra, de tal modo que quando estavam em causa a sua honra ou os princípios e valores em que acreditava não hesitou em renunciar aos cargos e funções que exercia.
Por detrás deste acervo de valores e qualidades, com destaque para o amor que nutria pela sua Família, António Marques Júnior era um homem preocupado e, em certos momentos, mesmo amargurado com a realidade que o cercava e de que durante tantos anos foi protagonista. No período que se seguiu ao 25 de Abril de 1974, nomeadamente como membro do Conselho da Revolução, perante desvarios e excessos, apesar da sua juventude, foi um factor de moderação e de equilíbrio, sendo permanente o seu contributo para a consolidação da democracia e da liberdade e para a realização da Justiça. Depois, como deputado e como Presidente do Conselho de Fiscalização do Sistema de Informações da República, seguiu a mesma linha de isenção, rigor e justiça e, por isso, quer na complexa vivência partidária, quer no criptomundo dos Serviços de Informações, viu-se confrontado com situações que lhe causaram profunda dialéctica interior e alguma amargura. Não que ele se queixasse, mas que os seus próximos, familiares e amigos verdadeiros, sentiam e eram com ele silenciosamente solidários. Estavam em causa domínios em que não é fácil ser frontal e genuíno e onde a verdade, a imparcialidade e a coerência são virtudes raras.
A mais valiosa herança que nos deixa é a do seu exemplo de vida: como pessoa, como marido e como pai, como cidadão, como colega, como amigo, como representante do Povo, como militar. “Ditosa Pátria que tais filhos tem”!
Publicado na edição do Jornal da Madeira do dia 16 de Fevereiro de 2013