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Artigo de opinião publicado na edição do JM de 12 de Dezembro de 2016
Durante o Ano Jubilar da Misericórdia, instituído pelo Papa Francisco, e cujo encerramento ocorreu no passado dia 20 de Novembro, ao refletir sobre as “catorze obras de misericórdia” de que nos fala o Evangelho, e sem negar a actualidade das mesmas, ocorreu-me a ideia de lhes acrescentar uma nova obra de misericórdia, uma espécie de aditamento à exaustiva lista que a catequese nos ensinou, aliás, à semelhança do que fez o próprio Pontífice no Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação (1 de Setembro) ao afirmar que o cuidado com o Ambiente deve ser visto pelos cristãos como uma “nova obra de misericórdia que se une às tradicionais, para defender a vida humana na sua totalidade”.
Estava na minha mente uma nova obra de misericórdia que fosse uma resposta ao isolamento e ao alheamento em que as novas tecnologias mergulharam as pessoas do nosso tempo, nomeadamente os jovens; que constituísse um antídoto à arrogância e convencimento, característicos do comportamento de muitas pessoas com que nos cruzamos no nosso dia-a-dia. Uma obra de misericórdia nova e simultaneamente carregada de passado, já que nos remete para uma expressão perene caída em desuso. Refiro-me ao “sentido do outro”. Não se trata de deificar o outro, negando Deus, como fazem os relativistas. O que está em causa é recuperar a segunda parte do primeiro mandamento, tal como Cristo o formulou: “Ama a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”.
Em que consiste, afinal, esta nova obra de misericórdia? Consiste em superar o egoísmo e a indiferença dominantes pelo reconhecimento do outro como destinatário da nossa atenção, da nossa delicadeza, da nossa cordialidade e até mesmo do nosso carinho – sem prejuízo da nossa ajuda material ou espiritual sempre que ela está ao nosso alcance e se mostre necessária. Há nisto uma subtileza de que só as almas generosas e atentas serão capazes. É uma nova obra de misericórdia feita de pequenas atenções, de gestos simples, de coisas que estão ao alcance de todos, mas de que nos esquecemos frequentemente. É o cumprimentar, o sorrir, o agradecer, o felicitar por algo de bom ou importante que acontece na vida do outro. É manter aberta a porta do elevador ou do prédio para os que vêm atrás possam entrar, é respeitar uma fila de espera. É também saber calar, deixando que o outro possa respirar…
É uma nova obra de misericórdia que, neste mundo da pressa e do atropelo, tem um efeito apaziguador e ajuda à Felicidade de cada um, humanizando as relações entre as pessoas, das que conhecemos ou simplesmente daquelas com que nos cruzamos no nosso dia-a-dia. Não se trata de nada de extraordinário, mas estou certo de que é uma nova obra de misericórdia em que também se descortina o “rosto de Deus”.