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Artigo de opinião publicado na edição do JM de 10 de Setembro de 2018
“A maioria pensa com a sensibilidade, eu sinto com o pensamento…”
Fernando Pessoa, no Livro do Desassossego
1. Oportunidade e razão de ser do tema
Passadas poucas semanas do despontar de uma nova época desportiva, com relevância para o futebol, justifica-se uma curta reflexão sobre uma questão que me intriga e interpela desde a minha adolescência. Porém, desenganem-se os que antecipam um artigo sobre o recorrente tema da cumplicidade entre políticos e futebol. Este artigo é sobre o facto de, no futebol e na política, a opinião do iletrado valer tanto como a do catedrático. Que explicação lógica para este paradoxo?
2. Comecemos pelos factos
Os que se interessam pela política e pelo futebol já terão notado que sobre o mesmo facto as versões dividem-se e são motivo de acesa discussão, havendo situações em que os antagonistas chegam até vias de facto. Pensemos na dialéctica que se estabelece entre patrão e trabalhador sobre questões que aparentemente se apresentam pacíficas e de leitura evidente, tais como horários de trabalho, remunerações dos trabalhadores, regulamentos de empresa. Pensemos nas questões de natureza política, quando a discussão incide sobre a percentagem do PIB, a dívida externa, o crescimento da economia, a taxa do desemprego, as causas fracturantes, e nela participam interlocutores de ideologias diferentes ou interesses contrapostos, independentemente do nível de conhecimentos sobre a matéria em apreço. O mesmo acontece sobre as questões do futebol. Apesar de haver dados objectivos sobre a importância e representatividade dos respectivos clubes, sobre os seus orçamentos, sobre as compras e vendas de jogadores, sobre o trabalho dos treinadores, sobre a competência dos árbitros, sobre os incidentes dos jogos, quer entre dirigentes dos diferentes clubes, quer entre adeptos, quer entre comentadores e analistas, todos se sentem habilitados a formular juízos, a discutir, a se insultarem na defesa dos respectivos pontos de vista. Não interessa o grau de ciência ou de conhecimento, sábio ou analfabeto, todos falam de cátedra e cada um fica na mesma.
3. Razão e emoção
Da minha reflexão de anos e de vivência de situações concretas na política e no futebol decorre que tal fenómeno se explica pelo facto de, tanto na política como no futebol, haver emoção a mais e razão a menos. Num e noutro campo todos sabem de tudo, todos discutem tudo, todos exibem saber, mas poucos se detêm na análise serena das questões, tentando despir-se da veste partidária ou da sua filiação clubista. E a discussão acentua-se à medida que o radicalismo político vem ao de cima ou o fanatismo clubístico toma conta dos adeptos do futebol – o que se torna evidente quando estamos perante elementos de partidos extremistas, à esquerda ou à direita, ou perante as claques dos clubes de futebol. É verdade que na era em que vivemos se faz a apologia da emoção, a começar pela exaltação da chamada inteligência emocional e a acabar nos desportos radicais ou noutras formas de exacerbamento dos sentidos. Não esqueçamos, porém, que, apesar da importância das emoções, a filosofia grega continua intemporal ao reconhecer a supremacia da mente. Assim deverá ser também na política e no futebol, sem o que uma e outro serão cada vez mais uma espécie de selva.